O metrô londrino

No mês em que a Academia das Palavras está comemorando 17 anos de estrada, vamos fazer uma série especial sobre inglês britânico e curiosidades sobre Londres, o berço da língua inglesa.

A palavra que se usa para designar o metrô é "underground". Também pode ser "tube". Já em inglês americano é "subway" ou "metro". O turista compra um cartão (chamado "Oyster", por cinco libras) e carrega com crédito (a expressão usada para carregar o cartão é "top up").

A pessoa passa o cartão na catraca no início da viagem. Quando chega à estação final, ela passa o cartão de novo, e só então o valor é descontado dos créditos do cartão. O valor da viagem varia conforme a distância percorrida. Para quem não está acostumado, é meio confuso. É preciso deixar o cartão abastecido.

São muitas linhas no metrô londrino. Mesmo com toda a tecnologia, eu me senti perdida (o que, aliás, não é novidade para mim).

Theater ou Theatre?

No inglês britânico, a forma correta de se escrever a palavra “center” (centro) é “centre”. Da mesma forma, “theater” (teatro) vira “theatre”. E “kilometer” (quilômetro) vira “kilometre”.

Em Londres, tem uma região famosa pela concentração de muitos teatros, a West End. Como amo teatro de paixão, passei um dia inteiro perambulando por lá. Para minha surpresa, no país de Shakespeare, a maioria das peças em cartaz eram grandes produções norte-americanas. Está acontecendo um movimento inverso ao da colonização dos Estados Unidos pela Inglaterra. Agora, é a cultura americana que invade a Inglaterra. Em cartaz, estavam famosos musicais como “O Rei Leão”, “Wicked” e “TINA – The Tina Turner Musical”.

Para nós, brasileiros, os ingressos são muito caros. Pesquisei bastante antes da viagem e encontrei uns ingressos a preços populares (quer dizer, populares para eles; para nós, ainda bem acima da média das produções nacionais). Fui com meu marido assistir ao musical “Pretty Woman” (“Uma linda mulher”), uma história que amo, no Teatro Savoy. Eu sabia de cor praticamente todas as falas. Foi muito emocionante. Chorei antes, durante e depois.

A lixeira britânica

Quando eu comecei a aprender inglês, aos 12 anos de idade, eu estudava em uma escola de idiomas britânica chamada “IBI”, em Brasília. Depois, estudei na Cultura Inglesa, no Rio de Janeiro, que também ensina inglês britânico. Eu aprendi que a palavra para designar “lixeira” era “dustbin”. Aí, aos 18 anos, fui fazer intercâmbio nos Estados Unidos. Quando falei “dustbin”, os americanos acharam engraçado. Eles entendem o que “dustbin” quer dizer, mas chamam lixeira de “garbage can”.

A palavra “litter” pode ser usada para designar “lixo”. Também pode-se falar “waste”, “trash” e “garbage”.

Dinheiro fora da validade

A moeda usada na Inglaterra é a libra (“pound”). Os centavos de libra são chamados de “pence”. Se for só um centavo, é chamado de “penny”. A libra vale mais que o dólar e mais que o euro. Mesmo na época em que o Reino Unido fazia parte da União Europeia, eles nunca adotaram o euro. Eles saíram da União Europeia em 2020, num movimento que ficou conhecido como “Brexit”.

As notas de dinheiro (“bank notes”) são recolhidas de circulação e trocadas de tempos em tempos para coibir a circulação de notas falsas. Eu não sabia disso. Eu tinha comprado minhas notas de libras durante a pandemia. Quando o mundo fechou, em 2020, minha viagem foi cancelada. Dois anos depois, quando finalmente consegui viajar, depois de horas e horas de deslocamento entre minha casa e o aeroporto de Londres, fui comprar o bilhete de metrô para ir do aeroporto até o hotel, e eis que descobri que minhas notas não eram mais aceitas. (Quase infartei! Mas viagem com perrengue tem mais emoção, não é mesmo?) Elas tinham sido “descontinuadas” uma semana antes de minha chegada. Minha irmã, Raquel, que já foi agente de viagens, fez uma pesquisa para descobrir o que eu poderia fazer para remediar a situação. Eu, exausta, só queria chegar no hotel e dormir. Nesse meio-tempo, usei o cartão de crédito.

No dia seguinte, fui até uma agência do correio para trocar as notas. Descobri que nem todas as agências trocavam. Ali não trocavam. Eu teria que que ir até o Bank of England. Lá fomos nós. Chegando lá, barraram nossa entrada, porque a fila já estava longa demais e não daria tempo de atender a todos. Um funcionário muito solícito nos encaminhou para uma outra agência dos Correios ali perto. Lá conseguimos, finalmente, trocar as notas. Detalhe: eles trocam no máximo 300 libras por passaporte em um período de dois anos.

Moral da história: nos dias de hoje, com tanta tecnologia (cartão de crédito etc.), não leve muito dinheiro em espécie. Tem lojas e restaurantes que nem aceitam mais dinheiro vivo, só pagamento digital (“cashless payment”).

Inglaterra, Londres, Reino Unido e
Grã-Bretanha são a mesma coisa?

 Não.

Inglaterra (England) é o nome do país. Quem nasce na Inglaterra é inglês (English). A capital da Inglaterra é Londres (London). Quem nasce em Londres é londrino (Londoner).

Reino Unido (United Kingdom, ou UK) é o nome de uma unidade política que abrange quatro países: a Inglaterra (England), o País de Gales (Wales), a Escócia (Scotland) e a Irlanda do Norte (Northern Ireland).

Grã-Bretanha (Great Britain) é o nome de uma ilha, portanto é uma designação geográfica. A ilha abrange três países: a Inglaterra (England), o País de Gales (Wales) e a Escócia (Scotland). Todos eles são considerados britânicos (British).

Peguei esse mapa superdidático no site: https://www.diferenca.com/inglaterra-gra-bretanha-e-reino-unido/

Tem um canal no YouTube chamado “Vogalizando a História” que explica muito bem essas diferenças: https://www.youtube.com/watch?v=FE74BdUafZo

O famoso "fish and chips"

 Um dos pratos típicos no Reino Unido é o “fish and chips” (peixe com batata frita). Como a culinária é uma parte importante para o estrangeiro experimentar a cultura local, lá fomos nós comer o tal do “fish and chips”. Delicioso! Ele veio acompanhado com um purê de ervilha (“pea puree”) e molho tártaro (“tartar sauce”).

O restaurante era super gracinha, no distrito de Convent Garden, uma área toda charmosa no centro de Londres. Quem deu a dica de Convent Garden foi minha colega June Pickering Nardini, intérprete, que é filha de pai inglês. É uma área onde só circulam pedestres, tem muitas lojas lindas, barzinhos (“pubs”) e artistas de rua.

Museus "na faixa"

 Em Londres, os museus são de graça. Você pode chegar e entrar (se tiver vaga) ou pode fazer uma reserva de horário para garantir a entrada (sempre a minha opção preferida).

Estas fotos são do Museu Britânico (“British Museum”). Eles têm um acervo arqueológico riquíssimo. Fiquei muito impressionada com esse templo do Império Otomano (de cerca de 380 a.C.) levado inteiro para o museu. Houve uma época (século XIX) em que as grandes potências europeias “colecionavam” as relíquias de vários cantos do mundo. Na placa, eles explicam que o dono do antiquário que liderou a expedição para levar o templo para o Reino Unido obteve permissão do sultão otomano em Constantinopla (hoje chamada de Istambul, a capital da Turquia). No final do século XIX, foi criado um museu em Constantinopla e começaram as proibições para retirar essas relíquias do país.

Hoje, existe um crescente movimento social exigindo que países europeus devolvam os tesouros para os locais de origem (Egito, Ilha de Páscoa, Irã, dentre outros).

Inglês copiando chinês?

 Outro museu muito bacana que visitei foi o “Victoria and Albert Museum”, de arte e design. Saí do metrô e fiquei surpresa de encontrar uma entrada do museu já dentro da estação, sem precisar sair na rua. Lá tem coleções de objetos antigos usados na decoração de casas e palácios ingleses.

Hoje em dia, costuma-se dizer que os chineses copiam tudo. E aí você aprende que no século XVIII eram os ingleses que copiavam os chineses. Tinha até um nome para o estilo chinês de decoração: “chinoiserie” (uso de flores, pássaros, muitas curvas e tons dourados). A palavra “porcelana”, em inglês, pode ser “porcelain” ou “china”. Pois é, “china”. O que hoje a gente conhece como a tradição inglesa do chá das cinco da tarde começou como uma forma de a alta sociedade inglesa exibir as porcelanas e os chás trazidos da China. Quem diria...

Um lugar chamado Notting Hill

 E quando você passa por uma estação de metrô que traz recordações de um filme antigo muito querido?

E não é que existe mesmo “Um lugar chamado Notting Hill”?!!

"Mind the gap"

 Essa expressão em inglês é muito famosa e está presente em diversos objetos vendidos como souvenirs em Londres. A palavra “mind”, quando usada como verbo, que dizer “cuidado”, “preste atenção”. “Gap” é “lacuna”, “espaço vazio”. A expressão é usada no metrô, para pedir para os passageiros terem “cuidado com o vão” entre o trem e a plataforma. Em algumas estações mais antigas, esse vão é mesmo grande e alguém pode acabar caindo no trilho energizado do metrô.

É por isso que a Linha Amarela do metrô de São Paulo tem aquelas portas duplas, assim o embarque dos passageiros fica mais seguro.

Sorvete Kibon em Londres

 Você reconhece esse logotipo? É o nosso sorvete Kibon. A Kibon foi comprada pela Unilever, que vende o sorvete com a marca “Wall’s”. Olhe com atenção e você vai ver o sorvete Cornetto dentro do freezer.

City of London

 Bem no centro da cidade de Londres, existe um lugar chamado “City of London”. É uma cidade murada, que foi construída há mais de mil anos para ser usada como fortaleza para o rei quando ele estivesse passando por lá. Esse lugar tem uma torre lindíssima (“London Tower”), toda de pedra. Fica encostado no Rio Tâmisa e houve uma época em que o acesso era pelo rio, porque não havia estradas. Quando as legiões romanas invadiram o que hoje é a Inglaterra, essa fortaleza foi o símbolo da resistência. O exército romano nunca conseguiu tomar a torre. Fiquei estarrecida com esse lugar. Vejam as imagens.

Tomadas

 Em Londres, as tomadas (“electrical outlets”, “outlets”, “electrical sockets”, “wall plugs”) são diferentes. Mas, para carregar o celular, tem entrada USB nos hotéis, então a gente não precisa levar adaptador. Tá vendo aqueles dois botões circulados de vermelho? Eles servem como trava de segurança. Você encaixa o secador de cabelo na tomada e só consegue ligá-lo depois de mudar o botão de posição na parede. Curti.

Pontos turísticos mais conhecidos

 A Abadia de Westminster (“Westminster Abbey”, onde teve o velório da Rainha Elisabeth) fica pertinho do relógio do Big Ben, do Rio Tâmisa (“River Thames”) e daquela famosa roda-gigante (chamada de “London Eye”).

Ah, as palavras!

 As palavras me atraem com um magnetismo forte,
desde sempre.
Quando caminho na rua,
ou estou dirigindo,
ou olhando pela janela do carro ou do ônibus,
são elas que comandam minha atenção.
Anúncios, peças publicitárias,
palavras pichadas nos muros, palavras ao vento.
São sempre elas, as palavras.
Eu me perco nas palavras e erro os caminhos.
Descaminhos.

Uma palavra amiga,
uma palavra de carinho,
uma palavra descabida.
Todas me cabem.
Cabe a mim a palavra final.
Palavra de honra.
Sou mulher de palavra.

Palavrão não é palavra longa, é palavra de efeito.
É palavra forte.
As átonas me encantam menos que as tônicas.
Gosto de ênfase.
Que fique claro que elas devem ser usadas com precisão. Palavrório e verborragia cansam.

Quanto valem as palavras?
Dependendo de quem fala, a palavra não vale nada.
Mas existem palavras de peso.
Durmo com elas.
Jogo com elas.
Quando elas sufocam, escolho o silêncio.
Faço parênteses.
Ouço o não-dito.
Faço delas o que bem entendo.
É meu dom.
Elas fazem de mim o que querem.
É minha sina.